sexta-feira, 23 de outubro de 2009

POEMAS E BRINQUEDOS DE MIRITI

Poemas de Miriti de Edithe Pereira e Luiz Carlos França

Canoas de miriti
navegam
no mar da procisão
canoas de miriti navegam no da devoção
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Brinquedos de miriti
sonhos que o artista realizou
e deixou a eterna vontade
de brincar
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Brinquedos de miriti
alegorias da romaria
adereço de gratidão
e devoção
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Belém, todo carinho é pouco,
pra ti
versos apaixonados
poemas de miriti
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Belém, gira, gira, girândola
girândola de miriti
belém, gira, gira, girândola
girândola de amor por ti






Os Brinquedos de Miriti*, uma fibra leve da palmeira também conhecida como Buriti e chamada de isopor da Amazônia, são fabricados há 200 anos no Pará.
Nascidos da espetacular capacidade de adaptação do caboclo brasileiro à natureza que o circunda, os Brinquedos de Miriti são a expressão da sensibilidade e da representação ingênua do universo ribeirinho da região de Abaetetuba, cidade vizinha de Belém, distante hora e meia de carro e balsa, ou duas horas de barco, o transporte mais usado, talvez até pela calma e placidez que a floresta e os igarapés sugerem
A confecção dos brinquedos começa com a coleta dos talos (braços) da palmeira, no meio do mato, em Sirituba, um logradouro que se atinge de barco.
O miriti escolhido é de preferência jovem. Da planta se colhe apenas os braços, onde estão as folhagens. Com isso, não é uma atividade predatória, e sim sustentável, uma vez que a árvore é mantida viva e crescendo.


Para se obter a matéria prima dos brinquedos os braços do miriti são descascados e se aproveita apenas o miolo. As cascas que são bem flexíveis, depois de secas, transformam-se em cestos, paneiros, varetas de papagaios e pipas. O miolo, trabalhado com facões de mato, é alisado e transportado em feixes para os produtores dos brinquedos.

Os artistas com ferramentas rústicas (normalmente facas e facões) esculpem e montam peças segundo suas referências pessoais. Alguns especializaram-se em barcos, outros em bonecos dançarinos, cobras, jacarés, madeireiros, pássaros, insetos perfeitos, vaquinhas, aviões, rádios de pilha, televisões. A escolha deste ou daquele motivo é parte da crônica individual de cada autor ou família de autores.


Depois de prontas, com as partes coladas e secas, é aplicado o desenho base da pintura final feita por membros das famílias (homens, mulheres e crianças) que repetem em cada peça o padrão estabelecido. Os brinquedos são estocados e, à véspera do Círio de Nazareth**, são levados para Belém, onde são expostos nas praças ou comercializados em girândolas.

As girândolas são uma espécie de cruz com vários braços, também feita de miriti, onde são espetadas ponteiras da casca do próprio miriti para amarração de cerca de uma centena de brinquedos. A venda é feita pelos próprios artistas ou amigos que trabalham neste período. Ao contrário de outras formas de artesanato da região, como as réplicas de cerâmica marajoara ou tapajônica, cujas referências estão em achados arqueológicos expostos no Museu Emílio Goeldi, os Brinquedos de Miriti são uma manifestação artística expontânea e reflexo da criatividade dos produtores seja no uso de cores primárias e poucas misturas (azul, vermelho, amarelo, verde, preto), seja na forma utilizada que sempre reflete o universo caboclo, suas influências urbanas e afetivas.

Os Brinquedos de Miriti, são exclusivos e inéditos. Eram somente encontrados em Belém, no período do Círio de Nazareth. Hoje com o apoio do SEBRAE e do Governo do estado do Pará, que implantou o Programa de Capacitação, foi fundada a Associação dos Artesãos de Miriti de Abaetuba, ASAMAB, que conta com mais de 100 integrantes. A possibilidade de renda e trabalho, despertou o interesse de gerações mais novas que se uniram e fundaram a Miritong, desenvolvendo novos produtos e novas atividades.

Fonte de Pesquisa: texto de Cleber Papa publicado no site da UOL, São Paulo Imagem Data; texto de Denise Ribeiro no site da Folha, Folhinha, de 10/12/2005

Associação dos Artesãos de Miriti

de Abaetuba - ASAMAB

Fundada em 2002, a ASAMAB teve o apoio do SEBRAE/PA e do Governo do estado, com o Programa de Capacitação, reunindo os tradicionais artesãos de Abaetuba, que produziam suas peças para as festividades do Círio de Nazaré. Hoje são 108 integrantes, e a atividade geradora de renda dura todo o ano, e com novas tendências.

A ASAMAB participou do Ano do Brasil na França, em 2005, destacando o artesão Valdeli Costa, que ministrou uma oficina de brinquedos muito visitada. Foram 2400 peças, todas vendidas. "Eu estou muito feliz, construí minha casa e estou mantendo meus quatro filhos na escola só com os brinquedos de miriti", comemora Valdeli, que tem oito anos de ofício.


Nome científico:
Mauritia flexuosa
Família: Palmae

Palmeira conhecida como isopor na Amazônia, frequente também na região do Cerrado. Dela se aproveita tudo: palha para cobertura de casas, fruto para confecção de doces, seiva para fazer vinho, tala para cestarias, folhas para a confecção de cordas, e o tronco para a produção de canoas, brinquedos e esculturas. É matéria prima básica em muitas etnias indígenas. Atinge até 35 metros. Possui folhas grandes, em formato de estrela. As flores são dispostas em longos cachos de até 3 metros de comprimento e possuem coloração amarelada, surgindo de Dezembro à Abril.

É típica nas formações denominadas "veredas", onde acompanha um curso d'água ao longo do sertão. Só sobrevive em locais alagados.

Extrído do site:http://www.pontosolidario.org.br/miriti.htm

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Falece Shotaro Shimada




Um dos precursores do Yoga no Brasil morreu hoje em São Paulo
29/09/2009

O professor de Yoga Shotaro Shimada faleceu nesta madrugada (29 de setembro) no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Ele passou mal durante o final de semana e fez uma cirurgia por causa de um problema de obstrução intestinal e não resistiu. Shimada tinha 80 anos e dirigia sua escola na rua da Consolação desde 1958.

Neste ano, ele foi o grande homenageado do evento Yoga Pela Paz.

O velório será hoje no Hospital Beneficiência Portuguesa, às 16h e o enterro sairá amanhã às 8h para o Cemitério da Paz.
Hospital Benefiência Portuguesa:: Rua Martiniano de Carvalho, 905.
Cemitério da Paz: Rua Dr. Luís Migriano, 644, Morumbi.

Leia abaixo reportagem sobre o professor publicada na edição 8 da Prana Yoga Journal , de agosto de 2007.

Por Renata Reif
Professor de Yoga há mais de 50 anos, ele é fundador do Instituto de Cultura Yoga Shimada, em São Paulo e considerado um dos introdutores da Yogaterapia no Brasil. Shimada, que foi também responsável pela aplicação dos ensinamentos do Yoga no esporte, revela com simplicidade a sabedoria que adquiriu ao longo da vida como lutador de judô e professor de Yoga. Ele dá aula há 45 de seus 78 anos, é professor de três gerações de uma mesma família e esclarece que Yoga não é uma aula de competição – a execução das posturas é feita para estabilizar a mente, ter conforto no esforço.

São 50 anos de prática. Como foi o seu primeiro contato com o Yoga?
Há 50 anos ninguém falava de Yoga. Comecei a praticar porque treinava judô. Eu li em um livro chamado Yoga, a Ciência da Respiração, que a prática desenvolvia faculdades mentais pela autodeterminação e aumento da concentração por meio da respiração. Usei os princípios e constatei que fez muito efeito, inclusive fui campeão em 52, 53 e 54 do Campeonato Paulista de Judô. Aí me interessei por Yoga e comecei a praticar. Naquele tempo, o Yoga era visto como faquirismo, não tinha a explicação abrangente de que o Yoga é uma ciência, um sistema, entende? Aparecia uma porção de jejuadores na Avenida São João, que ficava dentro de caixas de vidro por dois, três dias sem contato com o mundo exterior. Era visto como faquirismo porque realmente o Yoga desenvolve certos poderes. Com o mínimo de respiração e oxigênio, poderes mentais desenvolvem o poder do corpo físico. Porque tudo é fruto do poder da mente. Sempre achei que Yoga era uma ciência, um sistema. Estudei, fiz o curso de Anatomia, Fisiologia e Patologia pela Escola Paulista de Medicina (atual Unifesp) em 1958 e no dia 19 de abril do mesmo ano, eu abri o Instituto. Mas no começo, não podia falar Yoga porque todo mundo achava que se fizesse ficaria biruta. Porque na revista Cruzeiro, aparecia gente com um punhal atravessando o pescoço. Não falava em Yoga, falava em ciência da respiração. Aí, pouco a pouco, começou a haver literatura, mais divulgação.

Quais são as motivações de um praticante para construir o alicerce da prática?

A base? Agora, com a comprovação científica, ficou claro que tudo está na cabeça, na mente, no pensamento da pessoa. Por isso se diz, você é aquilo que você pensa. Querendo ou não, quando você pensa, há uma reação nos neurônios. O sistema nervoso é responsável pelo comando do corpo. Então o alicerce fundamental é mudar a maneira de pensar. Se eu estou pensando de maneira agradável, porque tive uma notícia agradável, a mente está confortável, então tudo no sistema nervoso está estável. Mas se você recebe uma notícia desagradável, a mente começa a perturbar e o corpo começa a causar tensão. Tudo está na cabeça, na mente da pessoa. O desenvolvimento da mente se faz pela da prática do Yoga. É preciso treinar a mente para não ser contaminado. O que perturba não é a coisa em si, mas a reação ao fato exterior. A transformação está no interior do homem, que é o centro do universo, por isso, se você muda, o universo todo muda.

Como não cair nos truques da mente?

Nas ciladas, né? É preciso vigiar a mente, o que eu estou pensando? É possível identificar o que se pensa e aí você muda. Se não houver essa vigia, essa consciência, você está sendo contaminado. Mas agora se observa que está sendo contaminado, pode mudar o pensamento. Há certos momentos que não há por onde escapar, em certas situações. Procure diminuir porque senão aquele estado de associação vai crescendo cada vez mais. Se não há condições de sair da situação, procure não se revoltar. Porque cada vez que se revolta, fica mais contaminado. Então, procure aceitar e pouco a pouco, mudar, vigiar a mente, o pensamento. É uma coisa fácil, não há necessidade de se retirar, se isolar.

É importante seguir um único mestre?

Hoje, nesse mundo de globalização, encontrar um mestre é a coisa mais difícil. Não é um erudito, que sabe falar, mas não vive aquilo. Na atual situação do país, todo mundo fala bonito, mas está uma desordem danada! Existe um ditado: não se pode servir dois senhores, tem de servir um único senhor. Se você servir os dois, vai entrar em conflito. Existe dualidade; ou é isso ou é aquilo, certo? Pode ser um mestre que ensina apenas as coisas simples. Porque a verdadeira transmissão não vem da palavra, vem da freqüência da pessoa, da vibração. Cachorro e criança pequena sabem muito bem qual a intenção da pessoa.

Acredita em samadhi (iluminação)?

Todos nós somos muito imediatistas. Muitas pessoas que começam a praticar já querem atingir o samadhi, mas não há necessidade, nem condição de atingir esse estado de iluminação. Se você está insatisfeito, revoltado, irado, se você começa a sentir que está melhor, mais contente consigo, em sintonia coma natureza, já é um bom começo. Ao querer alcançar o ápice das coisas, você pode cair. É uma mudança que você vai fazendo, não só na hora da aula, mas 24 horas por dia. Esse é o ponto fundamental. Existem princípios segundo o Sutra de Patañjali, em que o asana (postura) vai aliviar o estado de tensão. É preciso trabalhar a mente, diminuir o estado de ira. Se você faz a postura, mas por dentro está revoltado, o asana ajuda, mas quando sair da postura, aí a coisa pega! Toda a prática de Yoga é espiritual: yamas (controle), niyamas (observância), asanas (postura), pranayama (técnicas respiratórias), pratyahara (abstração), dharana (concentração), dhyana (meditação) e samadhi. Tudo é uma mudança da mente. Integrar com a natureza e não dominar a natureza, o outro ser. É preciso tomar consciência e devastar menos.

O senhor é vegetariano?

Não sou muito de comer carne, mas se sou convidado para um churrasco, eu como. A pessoa tem de fazer uma comida especial para mim? É muito desagradável! Espiritual é relativo. Porque tem muita gente que come carne e tem bondade. Tem muito vegetariano aí que não tem bondade, porque a revolta não está fora, está dentro de si. Por exemplo, os esquimós têm de comer e gordura. Cada país tem um tipo de alimentação. A verdadeira feijoada não é a que se come hoje e sim feita de joelho, rabo, orelha e língua, o mocotó. Hoje, se coloca paio, lingüiça, está tudo distorcido.

Como é o Yoga de hoje?

Hoje tem mais professores do que alunos. São muitas práticas e as pessoas não mais praticam como verdadeira tradição. Começam a inventar Light Yoga, Power Yoga, não sei o que lá Yoga, quando o Yoga é um só. Não tem essa divisão. Nós seguimos uma tradição do Kaivalyadhama, centro de pesquisa que existe na Índia desde 1924, em que todas as práticas e orientações são comprovadas cientificamente que têm efeito. Antes ligavam perguntando: “Professor, qual o horário da aula?”. Hoje ligam querendo saber que estilo que ensinam aí. Veja só!
Erick Schulz
Diretor do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala
Vice-Presidente da Associação Brasileira de Ayurveda
Diretor e Instrutor da Suddha Dharma Mandalam, Ashram Sarva Mangalam

Recebido por E-mail
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