terça-feira, 31 de março de 2009


ARTE E ANATOMIA HINDU
ABNINDRA NATH TAGORE
1921
Ilustrações de Vicente Pascual Rodrigues.
Tradução do Espanhol para o português de Dila Luna Matos
Fotos Carlos Frederico Matos
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Prefacio

O pequeno volume de M. Abanindra Nat Tagore pertence a uma categoria de obras sobre a arte hindu cujo conhecimento é pouco difundido entre os artistas e aficionados. Até o momento, se há ignorado em excesso a existência da Índia nos tratados dedicados as teorias estéticas das linhas, das formas e dos movimentos. Todavia se considera a arte Indiana como o resultado de uma imaginação exagerada e desordenada, não se compreende que esta arte, na realidade, esta submetida a leis bem definidas, e nada em sua evolução, ou melhor dito, em seu crescimento orgânico, se deve ao azar.

Desde muitos séculos, o artista hindu obedece à sua tradição. Esta tradição imutável esta baseada e regida nos Shilpas Shastra (*), cuja prescrição não se atreve a transgredir, como tão pouco se atreveria a violar as regras da sua casta. Menos intransigente que os Shastras, são as sentenças de inspirações religiosas, as Dhyana-Mantra, muito de seus ramos estão reunidos em livros, rituais, mas que podem ser transmitidos de viva voz, de mestre a discípulo (parámpará). Constituem um inesgotável repertório de procedimentos iconográficos. Mais é muito grande a influencia exercida sobre o imaginário hindu pelos preceitos dos Shastras e dos Dhyana-mantra, seu estudo terminaria em resultado bastante medíocre se não houver ao mesmo tempo outra fonte de inspiração e de ensino plásticos. Esta fonte é a literatura da Índia, imagem esplendida e sedutora do Universo sonhado pelos homens. A poesia hindu é particularmente rica em metáforas, epítetos e comparações sutis. Algumas passagens das obras do poeta Kalidasa poderia estabelecer uma teoria das curvas harmoniosas baseadas em textos sânscritos e tamil.

O livreto cuja tradução apresentamos, esta consagrado ao estudo do vínculo que ume a imagem escrita com idéia esculpida e pintada. Nos ensinando a captar a forma através da linguagem descritiva do poeta e nos ajudando a compreender o contorno de um braço ou de um perfil divino, melhor do que o engenhoso cálculo matemático-estetico...


(*) Shilpa Shastras (sânscrito: Śhilpa Śāstras) são tradicionais textos hindus que descrevem os padrões de iconografia religiosa hindu, por exemplo: prescrever as proporções de uma figura esculpida, bem como as regras de arquitetura hindu.


Victor Goloubew
Paris, 6 de novembro de 1920

Algumas notas por Abanindra Nath Tagore



Algumas notas que seguem foram compiladas pelo pintor Abanindra Nath Tagore e ilustradas por seus alunos, cujas obras puderam ver na exposição da “A Escola de Calcutar”, (em Os Orientalista, Paris 1914) é sobre o que a Arte Decorativa havia publicado em um importante artigo (fevereiro 1914)*.

Esta destinado (nos disse M. Gangoly, um discípulo de Tagore) a responder algumas criticas contra as reformas convencionais adotadas pelos artistas da Índia em escultura e pintura, e o que forma atualmente a base da anatomia artística hindu.

Esta nota não é só um tratado de técnica artística (Shilpa Sastra), poderiam confirmar se as interpretações desses textos antigo em sânscrito foram uma tarefa menos difícil.


(*) Foram publicadas por a Índian Society of Oriental Art (Calcuta) e traduzida do inglês com a amigável autorização de Tagore.

“Por diversas razões, a escultura hindu requer uma técnica mais distante da natureza que a escultura da Grécia antiga. A consciente e constante arte hindu deve sugerir uma forma palpável do Divino e do Transcendental. Em suas manifestações mais importantes, a arte hindu é o eco do mundo sobrenatural, cheio de mistério e exaltação”.

Um corpo humano perfeitamente normal pouco pode simbolizar os personagens de um mundo semelhante. Só um tipo ideal, cujas formas não respondem as conhecidas leis fisiológicas. O artista hindu foi levado a crê em certas convenções artísticas e um sistema especial de anatomia que sugere um tipo étnico superior, algo que esta “mais alem das formas humanas”.

Esperamos que as notas seguintes ajudem a uma apreciação melhor das obras mestras das artes hindu cujas formas irreais continuam, todavia confundindo as concepções européias.

Rogo aos leitores e, sobre tudo, a meus amigos e alunos peregrinos, como eu, em busca desta realização que é a execução de toda arte, e não tomem ao pé da letra as regras e os analises de forma contidas nos tratados de arte, com todo rigor de suas leis e demonstrações. Estas leis não são absolutas e nem invioláveis e não deve privar os “buscadores” da inspiração vivificante da Liberdade, restringindo-se as suas obras a um limite severo.

Até que tenhamos a força para voar, nos agarramos ao nosso ninho e nos afastamos daquilo que nos rodeia.

Retido por uns vínculos, devemos lutar para adquirir a força para romper, e lançarmos longe, para alem de todo limite, realizando em pleno significado de nossas lutas.

Não duvidemos jamais que o artista com sua criação é que vá diante “do fazedor de leis” e de seus códigos sobre arte.

A arte não esta destinada a justificar as Shilpa Shastras sendo que os Shastras estão aí para elucidar a arte. Em primeiro lugar nasce a forma concreta e logo vem os analises, os comentários, as leis e os cânones codificados nos Shastras.

As restrições impostas ao menino impedem a ele de se perder e lhe obriga a andar com receio, por está destinado a confiar para sempre em certo limite.

O noviço em arte se coloca sobre as restrições dos “tratados técnicos” em quanto o mestre se emancipa das tiranias das leis, das proporções e das medidas, da luz, da sombra, das perspectivas e da anatomia.

A igual obediência aos dogmas não faz o crente, do mesmo modo, nenhum homem chega a ser um artista seguindo servilmente ao código de sua arte.

Que loucura seria imaginar uma estatua modelada estritamente seguindo as leis dos Shastras, nos permitiria atravessar o limiar do distante reino em que a arte se alia com a alegria eterna!

Quando o peregrino inexperiente vai a um templo de Djaggernath, deve deixasse seguir passo a passo por seu guia que, em cada curva, dirige rumo a direita, rumo a esquerda, rumo para cima e para baixo, até que o caminho lhe chegue a ser familiar e a presença do guia seja inútil. Quando, por fim a Divindade seja revelada, tudo deixa de existir para o peregrino: templos e santuários, pórticos e limiares, símbolos e ornamentos, assistências sacerdotais, exatidões matemáticas dos passos medidos...

Semelhante ao rio que rompe seus diques, o artista derruba os limites das leis dos Shastras.
Por isso abordamos os nossos textos sagrados que tratam sobre arte com o espírito crítico, o encontraremos cheios de restrições e seremos também propensos a esquecer das abundantes lições que nossos sábios nos legou para salvaguardar a continuidade de nossa arte.
As obras de arte destinadas a ser contempladas de uma maneira religiosa devem conformar-se a um tipo prescrito. Isso quer dizer que o artista deve aderir as formulas dos Shastras só quando criarem imagens destinadas aos cultos, e que os demais casos são livres para seguir seus próprios instintos.
A imagem seguinte é um exemplo de figura de três curvaturas (Figura Tri-bangha).

Escolhida entre os numerosos exemplos desse tipo de criação pelos artistas hindus, na pagina 55 pode ver uma figura do mesmo tipo literalmente executada seguindo as formas dos tratados.
Enquanto o sábio Sancharcharya (*) tentava elucidar os mistérios da beleza com pesos e medidas, a personificação da beleza só é apreciada como uma forma que viola todas as leis e técnicas, estranha criação de algum artista rebelde: apareceu e lhe chamou atenção. Ao vê-las, o filosofo teve uma revelação e exclamou: “Essas leis odiosas, não são reveladas para ti; esses cânones escreveram esses analises minucioso para as imagens destinadas para os cultos. Inúmeras são as formas que vistes, oh beleza, e nenhum Shastra pode definir”.

Acrescentando: “Uma só figura entre milhões, por casualidade terá uma chance de ter uma forma impecável e uma beleza perfeita? Os sábios dirão: Só a imagem que se conforma às leis da beleza dos Shastras é uma forma perfeita. Nada que não obtenha as sanções dos Shastras é perfeito. Outros, ao contrario dirão: Todos os que amam apaixonadamente chegam a ser perfeitos, chegam a ser esplendidos”.

(*) Sancharcharya, celebre doutor do século VIII, autor de um comentário sobre os Vedas-Sutras, traduzido por G. Thibaut em os Secred Books of the East

Medidas e proporções





Nessas tradições artísticas reconhecem cinco classes de diferentes figuras:

Nara = humana.
Krura = terrível.
Asura = demoníaca.
Bala = infanti.
Kumara = juvenil.


Cinco escalas e proporções distintas entre si prescritas para essas figuras:

Nara murti = 10 talas.
Krura murti = 12 talas.
Asura murti = 16 talas.
Bala murti = 5 talas.
Kumara murti = 6 talas

O tala se define assim: uma quarta parte da largura do punho do artista se denomina um anguli, ou o comprimento de um dedo. Doze angulis, equivale a uma tala.

A Nara murti (forma humana, 10 talas) é recomendada para figura de heróis como:

Nara- Narayama (dois deuses que provem da divisão da essência de Vishnu).
Rama (herói de Ramayana).
Nrisinha (homem-leão, encarnação de Vishnu)
Vana (demônio adversário de Vishnu).
Vali (demônio vencido por Vishnu em seu avatar enano).
Indra (Deus da tormenta).
Bhargava (sobre nome de Siva).
Arjuna ( umdos heróis do Mahabarata).

A krura murti (forma terrível) a medida de 12 talas é conveniente para as criações destrutivas como:

Chandi (“a violenta”, sobrenome de Durga, esposa de Siva).
Bhairavia (forma terrível de siva).
Narasinha.
Hayagriba (pescoço de cavalo).
Varaha “javali”.

A medida de 16 talas deve ser utilizado para figura demoníaca como:

Hirayakasipu (demônio que matou Vishnu quando era avatar de homem-leão).
Vrita (demônio-serpente que retém cativas as águas celestes).
Hvianyakasha (demônio dos olhos de ouro que Vishnu matou).
Ravana (demônio-rei de Lanka e raptor de sita, heroína do Ramayana).
Kunbhahana (“asa de pote” um dos demônios de Lanka, Ceilão). ?????
Manuchi (demônio que Indra matou).
Kumbha (demônio humano)
Niskumbha (demônio humano)
Mahisha (demônio-búfalo que Durga matou).
Raktabija, etc.

O Bala murti é a forma infantil e conveniente para todos as representações da infância como:

Gopal (é Deus Krishna como bovero).
0 Balakrishna (Krishna menino), etc.

As demais medidas citadas são outras medidas da iconografia hindu conhecida com o nome de Uttama Navatala.

Toda figura se divide em nove partes iguais que se chama Tala. Um quarto de tala se denomina amsa.
Ao todo tem quatro amsas cada tala, a figura inteira tem nove talas e trinta e seis amsas.

As diferentes medidas verticais de uma figura construída segue estas talas:

Do centro da frente ao queixo... 1 tala
Da clavícula ao peito................. 1 tala
Do peito ao umbigo................... 1 tala
Do umbigo ao quadril................ 1 tala
Do quadril aos joelhos............... 2 talas
Dos joelhos as costas ................ 2 talas
Da frente do cocorute................. 1 amsa
Da rotula..................................... 1 amsa
Dos pés....................................... 1 amsa

As medidas horizontais são as seguintes:

Da cabeça................................... 1 tala
Do pescoço................................. 2 ½ amsas
De um ombro ao outro............... 3 talas
O peito........................................ 6 amsas
Da cintura................................... 5 amsas
Do quadril................................... 2 talas
Dos joelhos................................. 2 amsa
Dos tornozelos............................ 1 amsa
Dos pés....................................... 5 amsas


Comprimento

Do ombro ao cotovelo.................. 2 talas
Do cotovelo ao punho.................. 2 amsas
A palma....................................... 1 tala

Larguras.

As axilas......................................... 2 amsas
Cotovelos....................................... 1 ½ amsa
Punhos............................................ 1 amsa

O rosto divide-se em três partes iguais:

Do centro da testa ao centro das pupilas.
Das pupilas a ponta do nariz.
Da ponta do nariz ao queixo.

Segundo Shukracharyya, as proporções de uma figura Navatala são as seguintes:

Larguras:
Do cocuruto ao contorno do couro cabeludo: 3 angulis.
Testa: 4 angulis.
Da ponta do nariz ao queixo: 4 angulis.
O pescoço: 4 angulis de altura
Sobrancelhas: 4 angulis de comprimento e ½ de angulis de largura.
Dos olhos: 3 angulis de comprimento e 2 de largura.
Das pupilas: 1/3 das dimensões dos olhos.
Das orelhas: 4 agulis de comprimento e 3 angulis de largura.
A altura das orelhas é igual ao comprimento das sobrancelhas.
As palmas das mãos tem 7 angulis de comprimento.
O dedo medio, 6 angulis
O polegar 3 angulis e1/2, etc.
Os pés devem ter 14 angulis de comprimento.
O dedão, 2 angulis, etc.

As figuras femininas tem geralmente 1 amsa a menos que as masculinas.
As proporções de uma figura de criança devem ser a seguinte:

O tronco deve conter quatro cabeças e meia, assim a parte do corpo compreendida entre o pescoço e as coxas é igual a das cabeças e o resto das cabeças e meia, etc.
O pescoço é curto e sua cabeça relativamente grande, por ser mais lento o crescimento da cabeça do que do corpo.

Forma e caréter



Uma figura perfeitamente construída, sem erros nos seus mais pequenos detalhes, é a coisa mais rara do mundo.
A pesar das semelhanças em geral de formas e recursos entre os homens, é impossível eleger uma figura como tipo ideal.

A principio, as mãos, os pés, os olhos e as orelhas, parecem ter a mesma estrutura em todos os homens: pelo nosso conhecimento íntimo de todas as raças humanas e o costume que temos de olhar atentamente os detalhes de uma fisionomia, nos fazem ser assim prevenido em seus mínimos detalhes, em quanto que a eleição de uma figura esteticamente ideal apresenta serias dificuldades para o artista. Quando se trata de animais inferiores e plantas, as semelhanças são aparentemente, maiores entre uns e outros. Assim como, caso não haja diferença entre as aves da mesma espécie e das folhas e das flores da mesma família.

O rosto

O ovo de uma galinha tem a mesma redondeza e a mesma regularidade de contornos das outras galinhas; e uma folha de arvore Pipal (*) tem a mesma forma triangular e a mesma ponta que a outra folha da mesma arvore. Provavelmente, é por essa razão que nossos mestres descobriram que as formas dos membros e órgãos humanos não são comparadas com os outros homens, e sim, buscando sempre suas semelhanças com flores, aves, plantas e nos membros de um animal. Assim como, dizem que o rosto é arredondado com o ovo de galinha.
Nas figuras seguintes, podem ver-se dois rostos: um tem a forma de ovo, o outro lembra uma folha de bétele.
Um tipo de rosto que a expressão popular compara com a folha de bétele, se vê geralmente em Nepal e nas imagens dos deuses e deusas mais comum em Bengala.
Quando dizemos que um rosto é redondo, queremos dizer simplesmente que seu caráter dominante é redondo e não tem nenhum lado anguloso. Mas apesar desta tendência a redondeza, há algo em sua forma que pode exprimir uma comparação com um globo. Se há um dito, mas porem, que “é parecido com um ovo” e ele que tem o mesmo alongamento e estreitamento da base - o queixo - que é típico em um ovo de galinha. O rosto deve com tudo assemelha-se a forma ovóide, e ser fino, larga ou quadrada.


Introduzimos estas formas para modificar a simplicidade do seu contorno, é como o artista pode oferecer diferentes faces de acordo com as idades, e os caracteres variados.

É igual a um vaso de cobre que, apesar de ser adorno, conserva sua redondeza, o rosto conserva como base, através de toda ampla variedade de tipos, em sua forma ovóide.

A forma redonda é a natureza permanente do vaso de cobre e a forma ovóide é a natureza fundamental do rosto do herói humano.

O rosto em forma de folha de bétele é um rosto parecido com a lua cheia ou um rosto de coruja não são mais que variações dos rostos em formas de ovo.

(*) Fícus religiosa, figueira religiosa, árvores dos templos, árvore do Bodhi (intelecto).

A testa




Tem o contorno de um arco, mostrando o espaço entre as sobrancelhas e o cabelo em forma de meia lua de um arco ligeiramente tenso.

As sobrancelhas

São também parecidas com um arco e com as folhas da árvore Nim (Azadirachta indiana).

Estas comparações gozam da estima de nossos artistas; o primeiro para os rostos femininos, e o segundo para os masculinos.

As diversas emoções como o prazer, o medo, a ira, etc., se expressam por elevação do caimento e das contrações das sobrancelhas; se pensa em uma folha agitada pelo vento e um arco em seu diferente grau de tenção.

Os olhos

São infinitas as comparações que fazem com os olhares, relacionando com as emoções que expressam.
Se lhe comparo com os pássaros, e o olho vivo e estufado de um cervo, a um lótus e a um peixe carpa colorido.
As primeiras comparações são empregadas nas pinturas que representam as mulheres, enquanto que as outras se encontram nas estatuas de bronze e pedra, dos deuses deusas. Existe, todavia outro tipo de olho, conhecido em Bengala com o nome de “Raja Patol”(*), que não são mencionados em nossos textos sagrados nem em nossa antiga literatura, porque utilizaram com freqüência nos rostos das mulheres que enfeitam os afresco nos templos de Ajanta (**).


Os olhos das mulheres são muito moveis, mas não presumo que só acredite nessa natureza em que nossos mestres estão tentando expressar, ao escolher para compara-los com eles, três animais tão agitados como os cervos, os pássaros e a carpa. Esta comparação surgiu de um modo admirável, a forma e a expressão própria dos diferentes tipos de olhos.





Estes diversos tipos representam diferença muito marcante de caráter e cada um tem sua própria aplicação em sua expressão de emoções e de distintos temperamentos.
A característica dos “olhos dos pássaros” é uma certa alegria festiva; a dos “olhos de uma carpa” é uma mobilidade inquieta; a dos “olhos dos cervos” uma simplicidade inocente; a dos “olhos de pétalas de lótus”, uma calma serena; e, por ultimo, os “olhos de ninféia” são notáveis por sua calma sossegada de suas pálpebras caídas.

(*) Patol, legume próprio da Índia (Trichosanthes Dioeca).
(**) Ajanta, Pode ver fotografias feitas deste templo pela missão Gouloubew no Museu Guimet e no museu Cernuschi, em Paris.

As orelhas




Nossos mestres não parecem estar muito preocupados em indicar a estrutura das orelhas.
Sem duvida é porque está dissimulada por adornos e jóias nas faces das deusas e deuses.

Em Bengala se comparam as orelhas a pequenos abutres.

O nariz


O nariz tem a forma de uma flor de sésamo e as narinas se assemelham a uma fava.
O nariz em forma de flor de sésamo se vê em todas as imagens dos deuses e nos rostos das mulheres; o nariz dessa forma desce com uma simples linha partindo das sobrancelhas, enquanto que as narinas estão ligeiramente inchadas e côncavas como uma pétala de flor. O nariz em forma de bico de papagaio se encontra em todas as imagens dos deuses e homens;
Esse nariz se faz rapidamente proeminente e forma uma linha curva em quanto que as narinas sobem acima do rabinho do olho. Associa-se esta forma de nariz com a imagem dos heróis e grandes homens e com suas encarnações femininas.

Os lábios




Úmidos, doces e roxos, comparando-o com o fruto do Bimba (Monordica Monadelpha). A flor de dragão expressa admiravelmente a formação do lábio superior e o lábio inferior.

O queixo




Tem a forma de um caroço de manga. Esta analogia não foi sugerida só pela semelhança da forma. Compreende-se em seguida essa comparação com as sobrancelhas, com as narinas, os olhos e os lábios, o queixo permanece mais ou menos impassível, apenas afetada pelas emoções que reflete tanta vivacidade dos demais traços do rosto. Se comparar com um caroço inerte, enquanto que o resto do rosto exige comparações mais viva: flores, folhas, peixes...

O pescoço




Tem a forma de um búzio; as rugas do pescoço seriam as espirais que adornam a ponta.
Sendo a garganta o foco da voz, esta comparação expressa tanto sua função como sua forma.

O tronco

Desde o pescoço até o abdome, deve ter a forma de uma cabeça de vaca. Esta comparação sugere um modo admirável da força de um tronco, a esbelteza da cintura e as rugas da pele flácida do abdome.
Comparando-se também a cintura de uma mulher com uma ampulheta



E a do homem com o corpo de um leão e a força rígida como uma porta fechada de um busto de um herói, pois nenhuma dessas comparações equivale-se a primeira, que se expressa tão maravilhosamente completa, tanto na forma como no caráter do dorso.

Os ombros


Tem a forma de uma cabeça de elefante, e os braços corresponderiam a trompa.
O epíteto “ombro de elefante” converteu-se entre nos em uma expressão ridicularizante, é inegável que nossos ombro são parecidos com a cabeça de um elefante. Kalidasa (*) disse que seus heróis têm ombros de touro, mas, a cabeça de um elefante é uma comparação mais apropriada. Não só existe semelhança de forma entre nossas mãos e a ponta da trompa mas também semelhança de funções. As comparações com as serpentes e cipós empregados por nossos poetas, servem para expressar o caráter flexível, sarmentoso, capaz de agarra-se com as mãos como uma necessidade constante de se apoiar, como se caracterizam as plantas e as serpentes. A trompa do elefante não só sugere tudo isso, mas também a forma dos movimentos característicos das mãos.

(*) Kalidasa, Poeta épico, lírico e dramaturgo hindu que viveu no século V e VI de nossa era. Autor das seguintes obras:

a) Poemas épicos:
Kumarasambhava. Trad. em verso por Griffth, Londres, 1853, para o alemão por º Walter. Munich, 1913.
b) Poemas líricos:
Meghaduta. Trad. Inglesa de H. H Wilsaon. Calcutá, 1814; italiana de G. Flechia. Florença, 1897.
Ritusambara. Edição e tradução latina e alemã de P. V Bohlem. Leipzig, 1840.
C) Dramas:
Sakuntala. Trad. Bergaigne e Lehugeur. Paris, 1884. (edição Jouaust).
Malavikanimitra. Trad. Foucaux. Paris, 1877.
Vikramorvaci. Trad. Foucaux. Paris, 1861.