quarta-feira, 22 de abril de 2009

OS SUTRAS DO YOGA DE PATANJALI por Swami SATCHIDANANDA


LIVRO UM

SAMADHI PADA
Texto da Contemplação

Aqui tem início nosso estudo de Raja Yoga, ou Ashtanga (oito pares) Yoga, como algumas vezes é chamado.Os Sutras do Yoga, como exposto pelo sábio Patanjali Maharishi, constituem o primeiro e o mais importante escrito do Yoga.

Foi Patanjali quem, cuidadosamente, coordenou o pensamento yogi e explicou-o a seus alunos. Na medida em que expunha estes pensamentos, seus alunos faziam anotações resumidas utilizando apenas poucas palavras que vieram a ser conhecidas como Sutras.

O sentido literal da palavra “sutras”é “linha”; estes Sutras são apenas combinações de palavras alinhavadas- algumas vezes nem mesmo sentenças bem formadas com sujeito , predicado e assim por diante. Dentro do espaço desses 200 breves Sutras, toda a ciência do Yoga está claramente delineada: seu objetivo, as práticas necessárias, os obstáculos que você pode vir a encontrar em seu caminho,a remoção deles e descrições precisas dos resultados que serão obtidos de tais práticas.

1. ATHA YOGANUSASANAM.

Atha = agora; Yoga = de yoga; anusasanam = exposição ou instrução

Agora a exposição de Yoga está sendo feita.

Anusasanam significa exposição ou instrução, porque não é mera filosofia o que Patanjali pretende explicar, mas instruções diretas sobre como praticar Yoga. Mera filosofia não irá satisfazer-no. Não podemos atingir o objetivo apenas por meras palavras.Sem prática, nada pode ser alcançado.


2. YOGASCITTA VRTTI NIRODHAH.

Yogas = Yoga; citta = da substância mental; Vritti = alterações; nirodhah = contentação

O Arquiamento das ondas mentais é Yoga.

Neste Sutra, Patanjali apresenta-nos o objetivo do Yoga. Para um aluno perspicaz, este Sutra seria suficiente, porque todos os restantes apenas explicam. Se a contenção das alterações mentais for do Yoga é baseada nisto. Patanjali apresentou a definição do Yoga e, ao mesmo tempo, a prática.”Se você puder controlar as ondulações da mente, você vivenciará o Yoga.”

Discutiremos agora o significado de cada palavra do Sutra. Em geral, a palavra Yoga é traduzida como “união”, mas como união necessária de duas coisas a serem unidas.Neste caso, o que se unirá a quê? Assim, consideramos Yoga significando, aqui, a experiência Yogi. A extraordinária experiência alcançada através do controle das ondas mentais chama-se Yoga.

Chittam é a soma total da mente.Para ter uma imagem completa do que Patanjali quer dizer com a palavra “mente”, você deve saber que dentro do chittamhá diferentes níveis. A mente básica é chamada ahamkara, ou o ego, o sentimento do “Eu”. Isto faz surgir o intelecto ou faculdade de discernimento que é chamada buddhi. Outro nível é chamado, manas, a parte da mente que deseja,que sente atração pelas coisas exteriores através dos sentidos.

Por exemplo, você está tranqüilamente sentado apreciando a paz da solidão, quando um cheiro agradável vem da cozinha. No momento em que manas percebe, “Estou sentido um cheiro agradável vindo de algum lugar,” buddhi raciocina,”Que cheiro é esse ? Acho que é queijo.Que bom! De que tipo!Suíço? Sim, é queijo suíço.” Assim uma vez que buddhi decida, “Sim é um delicioso pedaço de queijo suíço, como aquele saboreado na Suíça no ano passado”, ahamkara diz,”Oh, então é isto?Então devo comer um pedaço agora”.Estas três coisas acontecem uma de cada vez, mas tão rápido que raramente as distinguimos.

Estas alterações dão origem ao desejo de comer o queijo. Criou-se o desejo, e a não ser que o satisfaça indo até a cozinha e comendo o queijo, sua mente não retornará à condição original de paz.Está criando o desejo, conseqüentemente a vontade de satisfaze-lo e,uma vez que o satisfaça, você estará de volta a sua original situação de “paz”. Esta é a condição natural da mente. Mas estes chitta vrittis, ou as alterações da substância mental perturbam esta paz.

Todas as alterações mentais têm origem nas diferenças recebidas do mundo exterior. Por exemplo, imagine-se não tendo visto seu pai deda que você nasceu e que ele retorne quando você tem dez anos. Ele bate à porta. Abrindo-a, você vê um estranho. Corre para dentro sua mãe, dizendo; “Mamãe, há um estranho lá fora”.Sua mãe vai á porta e vê o marido que esteve longo tempo ausente. Com toda alegria ela recebe e apresenta-o como seu pai.Você diz;”Oh, meu pai!” Poucos minutos antes, era um estranho; agora, tornou-se seu pai. Transformou-se em seu pai? Não; é a mesma pessoa.Você criou a idéia do “estranho” depois a transformou em “papai”, só isto.

O mundo exterior é todo baseado em seus pensamentos e atitudes mentais. O mundo inteiro é apenas sua própria projeção. Seus valores podem mudar na fração de um segundo.

Hoje você pode não querer mais ver alguém que foi seu querido amor de ontem. Se nos lembrarmos disto, não sofremos tanto com as coisas que nos rodeiam.

É por isto que o Yoga não se incomoda muito em mudar o mundo exterior. Há um ditado sânscrito que diz: “Mana Eva manushyanam Karanam bandha mokhayoho.” “O homem é aquilo que pensa; servidão ou libertação estão na mente.” Sentir –se aprisionado é estar aprisionado. Sentir-se liberto é estar liberto.As coisas lá fora nem o aprisionam nem o libertam; somente sua atitude perante elas faz isto.

É por isto que sempre que falo a prisioneiros,digo: “Todos vocês sentem-se prisioneiros e esperam ansiosamente transpor estes muros.Mas olhem para os guardas. Não são parecidos com vocês? Eles também estão entre os meros. Mesmos que possam sair todas á noite, todas as manhas vocês os vêem de volta. Eles adoram entrar aqui; vocês adorariam sair. A clausura é a mesma. Para eles não é uma prisão;para vocês é. Por que? Há alguma mudança nestes muros? Não, vocês sentem que é uma prisão; eles que é um lugar para trabalhar e ganhar seu salário. É a atitude mental. Se, ao invés de aprisionamento, pensaremos neste lugar como um reformatório que lhes dá uma oportunidade de mudarem sua atitude diante da vida, de reformarem e purificarem a si mesmos,adorarão estar aqui até que se sintam purificados. Mesmo que lhes digam: ‘Seu tempo acabou; podem ir’, poderão dizer: ‘Ainda não estou purificado, senhor. Quero ficar aqui por mais algum tempo.’’’

De fato, muitos destes prisioneiros continuaram a levar uma vida yogi mesmo após deixar a prisão, e até mesmo foram gratos por sua vida na prisão. Isto significa que eles compreenderam bem o que lhes foi dito.

Assim, se puder ter controle sobre suas formas de pensamento e conseguir modifica-las como quiser, você não será escravizado pelo mundo exterior. Não há nada de errado como mundo. Você pode transformá-lo num céu ou num inferno de acordo com sua vontade. É por isto que o Yoga é todo baseado no chitta vritti nirodhah. Se você tem controle de sua mente, você tem controle de tudo. Assim, nada neste mundo poderá aprisiona-lo.
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