terça-feira, 31 de março de 2009

Algumas notas por Abanindra Nath Tagore



Algumas notas que seguem foram compiladas pelo pintor Abanindra Nath Tagore e ilustradas por seus alunos, cujas obras puderam ver na exposição da “A Escola de Calcutar”, (em Os Orientalista, Paris 1914) é sobre o que a Arte Decorativa havia publicado em um importante artigo (fevereiro 1914)*.

Esta destinado (nos disse M. Gangoly, um discípulo de Tagore) a responder algumas criticas contra as reformas convencionais adotadas pelos artistas da Índia em escultura e pintura, e o que forma atualmente a base da anatomia artística hindu.

Esta nota não é só um tratado de técnica artística (Shilpa Sastra), poderiam confirmar se as interpretações desses textos antigo em sânscrito foram uma tarefa menos difícil.


(*) Foram publicadas por a Índian Society of Oriental Art (Calcuta) e traduzida do inglês com a amigável autorização de Tagore.

“Por diversas razões, a escultura hindu requer uma técnica mais distante da natureza que a escultura da Grécia antiga. A consciente e constante arte hindu deve sugerir uma forma palpável do Divino e do Transcendental. Em suas manifestações mais importantes, a arte hindu é o eco do mundo sobrenatural, cheio de mistério e exaltação”.

Um corpo humano perfeitamente normal pouco pode simbolizar os personagens de um mundo semelhante. Só um tipo ideal, cujas formas não respondem as conhecidas leis fisiológicas. O artista hindu foi levado a crê em certas convenções artísticas e um sistema especial de anatomia que sugere um tipo étnico superior, algo que esta “mais alem das formas humanas”.

Esperamos que as notas seguintes ajudem a uma apreciação melhor das obras mestras das artes hindu cujas formas irreais continuam, todavia confundindo as concepções européias.

Rogo aos leitores e, sobre tudo, a meus amigos e alunos peregrinos, como eu, em busca desta realização que é a execução de toda arte, e não tomem ao pé da letra as regras e os analises de forma contidas nos tratados de arte, com todo rigor de suas leis e demonstrações. Estas leis não são absolutas e nem invioláveis e não deve privar os “buscadores” da inspiração vivificante da Liberdade, restringindo-se as suas obras a um limite severo.

Até que tenhamos a força para voar, nos agarramos ao nosso ninho e nos afastamos daquilo que nos rodeia.

Retido por uns vínculos, devemos lutar para adquirir a força para romper, e lançarmos longe, para alem de todo limite, realizando em pleno significado de nossas lutas.

Não duvidemos jamais que o artista com sua criação é que vá diante “do fazedor de leis” e de seus códigos sobre arte.

A arte não esta destinada a justificar as Shilpa Shastras sendo que os Shastras estão aí para elucidar a arte. Em primeiro lugar nasce a forma concreta e logo vem os analises, os comentários, as leis e os cânones codificados nos Shastras.

As restrições impostas ao menino impedem a ele de se perder e lhe obriga a andar com receio, por está destinado a confiar para sempre em certo limite.

O noviço em arte se coloca sobre as restrições dos “tratados técnicos” em quanto o mestre se emancipa das tiranias das leis, das proporções e das medidas, da luz, da sombra, das perspectivas e da anatomia.

A igual obediência aos dogmas não faz o crente, do mesmo modo, nenhum homem chega a ser um artista seguindo servilmente ao código de sua arte.

Que loucura seria imaginar uma estatua modelada estritamente seguindo as leis dos Shastras, nos permitiria atravessar o limiar do distante reino em que a arte se alia com a alegria eterna!

Quando o peregrino inexperiente vai a um templo de Djaggernath, deve deixasse seguir passo a passo por seu guia que, em cada curva, dirige rumo a direita, rumo a esquerda, rumo para cima e para baixo, até que o caminho lhe chegue a ser familiar e a presença do guia seja inútil. Quando, por fim a Divindade seja revelada, tudo deixa de existir para o peregrino: templos e santuários, pórticos e limiares, símbolos e ornamentos, assistências sacerdotais, exatidões matemáticas dos passos medidos...

Semelhante ao rio que rompe seus diques, o artista derruba os limites das leis dos Shastras.
Por isso abordamos os nossos textos sagrados que tratam sobre arte com o espírito crítico, o encontraremos cheios de restrições e seremos também propensos a esquecer das abundantes lições que nossos sábios nos legou para salvaguardar a continuidade de nossa arte.
As obras de arte destinadas a ser contempladas de uma maneira religiosa devem conformar-se a um tipo prescrito. Isso quer dizer que o artista deve aderir as formulas dos Shastras só quando criarem imagens destinadas aos cultos, e que os demais casos são livres para seguir seus próprios instintos.
A imagem seguinte é um exemplo de figura de três curvaturas (Figura Tri-bangha).

Escolhida entre os numerosos exemplos desse tipo de criação pelos artistas hindus, na pagina 55 pode ver uma figura do mesmo tipo literalmente executada seguindo as formas dos tratados.
Enquanto o sábio Sancharcharya (*) tentava elucidar os mistérios da beleza com pesos e medidas, a personificação da beleza só é apreciada como uma forma que viola todas as leis e técnicas, estranha criação de algum artista rebelde: apareceu e lhe chamou atenção. Ao vê-las, o filosofo teve uma revelação e exclamou: “Essas leis odiosas, não são reveladas para ti; esses cânones escreveram esses analises minucioso para as imagens destinadas para os cultos. Inúmeras são as formas que vistes, oh beleza, e nenhum Shastra pode definir”.

Acrescentando: “Uma só figura entre milhões, por casualidade terá uma chance de ter uma forma impecável e uma beleza perfeita? Os sábios dirão: Só a imagem que se conforma às leis da beleza dos Shastras é uma forma perfeita. Nada que não obtenha as sanções dos Shastras é perfeito. Outros, ao contrario dirão: Todos os que amam apaixonadamente chegam a ser perfeitos, chegam a ser esplendidos”.

(*) Sancharcharya, celebre doutor do século VIII, autor de um comentário sobre os Vedas-Sutras, traduzido por G. Thibaut em os Secred Books of the East

Nenhum comentário: